Negociando com o Papai

Juju adora o ballet. Contudo, nessa temporada pré apresentação de fim de ano, só quer saber dos ensaios e tem pedido para não ir às aulas normais. E nós, que pagamos uma mensalidade bem salgada, diga-se de passagem, não estamos gostando nada dessa história. Da última vez que isso aconteceu, papai intercedeu e fez ela registrar, por escrito, o seguinte acordo:

"Eu prometi ao papai e a mamãe que eu pedi para não ir ao ballet SÓ HOJE. (Se eu pedir outra vez vou ficar sem Wii uma semana.) (se eu reclamar ou chorar vou ficar sem Wii 2 SEMANAS.)

Ass. Julia

É Juju... Agora, é como dizem por aí. Vale o que está escrito.

Dramas de Juju

Outro dia, Juju surtou. A culpa foi da prova de Português, para a qual ela não queria estudar de jeito nenhum. Chorou, gritou, esperneou e tudo mais que uma criança fora de controle faz. Poderia ter sido o caos total, não fosse um bilhete que ela enfiou por debaixo da porta do meu quarto, depois que eu, vencida pelo cansaço, disse que não queria mais falar com ela e que a deixaria fazer o que quisesse. As palavras naquele pedaço de papel me fizeram ter um acesso de riso (contido, pra que ela não ouvisse) e toda minha irritação despareceu em segundos. Segue o conteúdo do bilhete:

" Eu odeio a minha vida ainda mais cuando vocês me tratam assim. se você quiser falar comigo eu estou debaixo do cobertor chorando. Ass. Julia".

E não era pra rir muito? Pra falar a verdade, achei a reação dela muito legal. É óbvio que ela não odeia a vida, mas é fato que detesta quando alguém eleva o tom da voz ao se dirigir a ela, e isso eu confesso que fiz. Aliás, vou continuar fazendo quando for necessário, porque às vezes é só o que resolve. No entanto, o mais interessante foi que, apesar de não estar a fim de falar, ela não quis deixar de expressar o que estava sentindo. E aí carregou no drama, intensa que é. No final, acabou estudando. Mas mais importante de tudo, abraços, beijinhos e carinhos, selaram a nossa paz.

O Primeiro E-mail

O primeiro e-mail que Juju enviou, aos 6 anos e meio, segue abaixo (copiado ao pé da letra):

Oi vovó,

eu quero que você um dia venha para cá de novo.

eu tenho cinco coisas para ti dizer:

a primeira é a que está la encima.

E a segunda é como vocês estão?

e a terceira é que eu mandei o imail para o Otavio

e a quarta é que eu tenho hotmail como você já viu

e a ultima é fala com o vovô que você já falou da lua.

,

Julia

As Primeiras Provas A Gente Nunca Esquece

Nossa filhota está em semana de provas. As primeiras de sua vida! A brincadeira agora ficou séria. Não na cabeça dela, é claro, que acha muito chato ter que parar de brincar pra se concentrar em frente a livros e cadernos de Matemática, Ciências, Geografia, etc. E com toda a razão. Afinal, ela ainda é um pinguinho de gente e já está tendo que estudar feito gente grande!

Quem está gostando somos eu e o Papai. Como estamos ajudando (porque ela só trocaria uma brincadeira por um livro, por livre e espontânea vontade, se esse fosse o de uma boa história!), aproveitamos pra relembrar muita coisa que ficou esquecida ao longa dos anos. Tentamos também fazer desse momento o mais agradável possível, e não uma simples obrigação. Queremos que ela tome gosto pelos estudos e entenda que eles serão importantes pra seja lá o que for que ela escolher fazer na vida.

Alguns assuntos vão ser muito chatos sim. E muita coisa que ela aprender agora, não vai ter a menor utilidade lá na frente. Mas... C'est la vie. Estudar é preciso, minha filha. Quem mandou você crescer?

A Casa dos Avós

No O Globo de hoje tem uma crônica de Zuenir Ventura onde ele conta algumas peripécias de sua netinha Alice e descreve brevemente a fase de aprendizado em que ela se encontra. Alice é bem menor do que Juju e está na "fase do prazer oral" , que é quando mordedores, chupetas, brinquedos e o que mais estiver pela frente acaba indo parar na boca, porque é através dela que a criança prova o mundo.

Já com os dois últimos parágrafos, me identifiquei totalmente! Aliás, acho que quase toda mãe e pai se identifica... Transcrevo-os aqui:

"É nessa fase também que Alice e seus coleguinhas de geração descobrem que existe um território livre onde podem realizar todas as vontades e caprichos, fazer tudo o que os pais não deixam, como, por exemplo, comer o que não devem na hora indevida. Esse paraíso permissivo onde não há fruto proibido é a casa dos avós.

Aliás, o melhor aprendizado dessa fase é a descoberta de que o bom mesmo é ser avô/avó. A nós, o bônus. O ônus fica para os pais: as noites em claro, o choro pela dor de barriga, as manhas, tudo, enfim, que é desagradável e dá trabalho."

Todos os avós que conheço me dizem exatamente isso, que um neto é ainda melhor que um filho, porque com ele não se tem as obrigações chatas, responsabilidade dos pais. Deve ser bom demais mesmo... Se isso for verdade, tomara então que eu tenha muitos netinhos!

Viva a Juju!

Juju leu a última postagem, riu, levou numa boa e disse que então eu deveria escrever que quando ela chegou em casa do cinema, naquele mesmo dia, tomou banho sozinha. Aí está então. Minha filhota tomou banho sozinha! Já foi um grande passo. Viva a Juju!

Quando o Brinquedinho Enguiça

Certa vez, um amigo, pai de dois filhos, ao descrever um ataque nervoso de um deles, soltou a seguinte frase: "O brinquedinho deu defeito". Nunca tinha ouvido essa expressão e adorei! Parece que é exatamente isso que acontece com a Juju (e com toda criança, com certeza) de vez em quando. Ela simplesmente enguiça!

Ultimamente, os defeitos têm acontecido com mais frequência porque estamos tentando torná-la mais independente. Juju é preguiçosa e ainda quer ajuda na hora do banho, das refeições e em outras situações em que poderia perfeitamente se virar sozinha. Então quando dizemos que não vamos ajudá-la ela faz manha e, às vezes, pira. A novidade agora é ela mandar, sem dó nem piedade um "Vocês me odeiam"! Aí me pergunto de onde ela tirou isso e me dá até uma vontade de rir, mas me seguro e explico pra ela que só estamos fazendo aquilo pro bem dela, que ela vai até gostar de fazer as coisas sem precisar de ninguém, e todas aquelas coisas que a gente fala nessas horas. Ainda assim, muitas vezes ela continua chorando, gritando e confrontando a gente. E só se acalma depois de muita conversa e, em último caso, ameaças de castigos. Quase sempre ficamos só na ameaça, mas quando nem isso adianta o castigo acaba acontecendo mesmo.

Essa é uma fase difícil, mas acho que lá na frente veremos o quanto foi importante insistirmos nesses ensinamentos. Às vezes temos que ser mais duros do que gostaríamos, mas a verdade é que a vida nunca vai ser só moleza, então quanto mais cedo ela aprender a ser independente, melhor pra ela.